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***Patrick***
Você partiu...
Sem um lamento.
Sem uma palavra.
Sem um sorriso.
Sem uma lágrima.
Sem um abraço.
Sem um beijo.
Sem um adeus.
Você partiu...
Após tantos anos.
Após tantas vitórias.
Após tantas alegrias.
Após tanto amor.
Após tanto carinho.
Você deixou...
deixou tantas perguntas.
deixou tantos anseios.
deixou tantas incertezas.
deixou tantas saudade.
deixou tanto vazio.
Você levou...
levou um pedaço de m'alma.
levou um pedaço do meu coração.
levou um pedaço de minha ilusão.
levou um pedaço da minha vida
levou um pedaço de mim mesma.
E eu chorei...
Chorei pela sua vida.
Chorei pela sua falta.
Chorei pelos seus sonhos.
Chorei por tantas saudades.
E de tanto chorar por ti,
chorei por mim mesma
Todo casamento que "acaba" já se acabara muito antes. O amor é um sentimento tão forte que, até para admitir o seu término, precisa de tempo. Quando algo estoura ou vem à tona é porque de há muito borbulhava, subterrâneo. Aceitar que o amor acabou é tão difícil como admitir a sua existência!
Fico a pensar nos quilômetros de discussões com as quais milhares de casais disfarçam o amor que começa a terminar, ou já morreu e começa a tresandar. Penso na dor sorrateira e covarde do amor que começa a acabar. Penso no sentimento de perda que se instala até nas relações que se tornam frias e distantes. Sofro por pessoas que estão trilhando o doloroso caminho da descoberta dos impasses com o ser amado; as que estão descobrindo defeitos, desencontros, impossibilidades de encaixes e de suplementação nas relações. Penso nos que estão tentando gostar, já não mais conseguindo. Compadeço-me dos que colocam flores e esparadrapo na própria decepção ou no cansaço de suas relações rotinizadas, robotizadas, endurecidas, cristalizadas, congeladas. A dor do amor que não se realizou gera doloroso sentimento de perda. A perda prescinde do amor. Até onde este não mais existe, ela dói e machuca. O sentimento de perda transcende o amor. Talvez seja até maior, como sentimento, que o amor, pois o sentimento de perda perdura, a despeito de haver acabado.
Sente-se a perda da pessoa a quem se amou e sente-se a perda do amor. O que dói no amor que termina não é o fato de ter acabado. Nesse sentido é até alívio. Dói o fracasso do que poderia ter sido; os cacos do que, mal ou bem, foi construído em comum; é a contemplação da morte através da verificação da existência de uma pessoa em nós e no outro que já não existe, que mudou, transformou-se e cresceu ou apodreceu e piorou.
A gradativa aceitação da inexistência do amor é ferrugem existencial difícil de ser aceita. Por isso o amor passado é dotado de muitas caras e, para se proteger dessa ferrugem, admite crescer em outras direções, igualmente prazenteiras: a da amizade, do carinho, da compreensão. Talvez.
Artur da Távola