Depois de todas as modalidades de sexo descobertas pelo homem – e principalmente pelos criativos diretores de filmes pornográficos – uma delas parece ser a mais recente: o sexo virtual.
Munidos de imaginação, computadores e, para os um pouco mais sofisticados, câmeras, pessoas transam cada uma em suas casas, escondidas atrás do anonimato da internet e sem precisar passar perfume ou dormir abraçado.
Para Maluh Duprat, Psicóloga do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática - NPPI, da PUC/SP não é simples dizer de primeira se o comportamento está sendo ou não doentio. “Eu diria que normal e saudável é tudo aquilo que faz bem sem causar danos a outras pessoas. Se o sexo virtual se encaixa nessa definição genérica, então, a resposta seria sim. No entanto, é bom lembrar que não substitui em importância e significado o sexo presencial. É apenas uma alternativa prazerosa, uma opção a mais que também pode ajudar a explorar o lado da fantasia que permeia a sexualidade”.
Apenas uma fantasia
Dificilmente, as pessoas assumem que praticam, mas é muito comum, garante a psicóloga. “Não só porque é cada vez maior o número de pessoas que têm acesso à internet, como por ela representar um espaço muito interativo e ao mesmo tempo anônimo, o que a torna muito propícia para lidar com as fantasias sexuais”, define Maluh. “Como existem muitos tabus sobre esse tema, as pessoas preferem não assumir a prática e conservar alguma privacidade sobre isso”.
Os adeptos do sexo virtual, em sua maioria, são homens. “Entre homens e mulheres, muitos são solitários. Outros, mesmo tendo parceiros, procuram virtualmente formas alternativas de prazer”, afirma. Porém, quando o caso não é apenas uma outra forma de prazer, pode ser preocupante. “Quando se torna compulsivo, ocupando o lugar e o tempo de outras atividades importantes, quando deixa de ser prazeroso e passa a causar danos, tanto internos (frustração, dor) como nas relações reais com o parceiro”.
Quando ficar atento
As dicas da psicóloga para a pessoa perceber se está passando dos limites é ficar atento se o hábito se torna vício. “O sujeito passa a não ter mais controle sobre o uso compulsivo que faz da internet, seja para sexo, seja para jogo, para mensagens ou o que for, é sinal de que há outras coisas na vida real que deixaram de ser cuidadas ou das quais se deseja fugir, por alguma razão”.
A primeira tentativa de solucionar um comportamento pouco saudável é conversar com o parceiro. “Contar o que sente e o que está levando a agir de maneira perigosa ou nociva, para si ou para a relação do casal. Em casos menos graves, aproveitar a oportunidade de compartilhar fantasias, conhecer melhor as necessidades e expectativas do outro, enriquecer o relacionamento real”, aconselha Maluh.
No caso dos solitários, é diferente. “Se a pessoa tem consciência de que essa atividade em vez de ser satisfatória tornou-se um problema, procurar a ajuda de um psicoterapeuta pode ser o primeiro passo para rever sua vida, seus propósitos, seus desejos, de uma maneira mais segura e produtiva”. E há também o caso das pessoas que extrapolam seus limites psíquicos, por não saber lidar com sua própria sexualidade. “E isso é muito mais comum do que se imagina”, afirma. Quando a vida virtual é mais interessante ou importante que a vida real, é hora de procurar ajuda.
Ele abandonou a vida real
“Desempregado, pobre, gordo e feio. Que chances eu teria de ter alguém?”, perguntava-se, no passado, Gustavo*, de 35 anos. Por muito tempo, ele fez o que a psicóloga explicou ser um comportamento patológico. “Eu não saía mais. Não queria mais ter contato com pessoas”. Ele assume que sua vida pessoal, amorosa e sexual resumia-se a conversar de mensagem instantânea pela internet. “Eu não sabia o que era mulher há anos. E achava que essa era a saída para um cara como eu, que nenhuma mulher se interessaria. Mas percebi há tempo que era exatamente o oposto”.
Com a ajuda da família e dos amigos, Gustavo procurou um terapeuta. “Percebi, então, que eu não tinha que fugir do que me incomodava em mim. Tinha que mudar. Foi o que eu fiz: passei a fazer terapia, o que me encorajou a procurar um emprego e até emagrecer”, diz.
“Mas não é isso que me impede de conhecer mulheres. Estou solteiro, mas já namorei desde que saí do buraco e já tive outros casos. Voltei a viver”, conta ele, que vê o computador de outra maneira. “Claro que eu ainda navego na internet. Só que, agora, não como uma forma de fugir da realidade”.