Um Conceito de Nobreza - Você é nobre?
Um Conceito de Nobreza - Você é nobre?
Em uma tarde ou manhã de reflexões nobres, aceitei da minha alma traquina um desafio nobre: definir o que seria uma pessoa nobre, com o perdão da cacofonia.
Nada mais complexo (ou insano) do que definir qualquer assunto que envolva o único ser dotado de razão, em qualquer condição e época de nossa existência. No entanto arrisco, revisito registros, olho para o nada, respiro fundo e aí vai...
Nobre é aquele jovem viril e afeiçoado que na noite conquista a princesa da festa, e no raiar do dia, depois de muitas carícias (e delícias) passa duas horas conversando com um amigo idoso de 60 anos, sobre os conflitos existenciais que afloram sedentos na fase final da vida. E ainda nesse diálogo, em nenhum momento, fala que beijou boca e corpo da mais pedida princesa.
Nobre é aquele que consegue ser afável com a criança descalça que pede esmola no semáforo que ferve; Ser gentil com o vendedor de morango que é estrábico; ser simpático (e empático) com a distribuidora insinuante de panfletos do bar Missura. Tudo isso sem necessariamente doar moedas, comprar as frutas ou aceitar os panfletos com estampa de uma mulher mais insinuante do que a própria distribuidora.
Nobre não é a pessoa que tenta melhorar o astral de outra com as desgastadas frases de auto-ajuda: “Coloque-se em primeiro lugar” ou “O passado não nos pertence mais” ou ainda: “Nunca desista!”. Nobre sim, é quem ouve. É quem lacrimeja junto com olho lúgubre. É quem se coloca no mesmo nível e se mantém presente, para só depois, com a ajuda do tempo, recitar as frases motivacionais, em que nesse segundo momento, sim, fazem sentido.
O nobre retira da adversidade, um sumário de vida simples dedicada ao próximo e sabe, que é a única forma de diminuir as diferenças exorbitantes das classes sociais, o pior efeito do padrão de vida moderno. O nobre sorri sempre sem esperar retorno nunca; tem metas para ajudar a si mesmo a ter consciência de fraternidade; é estar pronto para acreditar “que na verdade não há”, como falou um dia o “poeta” Renato Russo.
O nobre prefere queimar a língua tomando chimarrão (mesmo não gostando), do que perder uma oportunidade de sinergia. E ainda nessa sinergia comenta, entre um sucesso e outro, os seus insucessos. Ele não coloca pessoas em moldes, e sim aceita-as por uma força maior do que a do julgamento: a força de um sentido para a vida. Aceita-as não apenas por saber que são diferentes uma das outras, porém sim, por saber que cada uma é diferente dela mesmo em cada minuto de existência.
Enfim, nobre não é aquele que muda os valores que ostenta, é sim, o que tem coragem de rever os conceitos, e quem sabe, mudá-los de postos em questão de prioridade. Penso que qualquer ser pensante em qualquer lugar do mundo deveria sempre levar o semelhante (ou o diferente) ao podium olímpico, sem doping e sem revisão de tempos!
A verdade está aí, com um enigma nobre, que pode ser decifrado (ou superado) por uma atitude nobre: Tratar o próximo com nobreza, também com o perdão da cacofonia.
Marcio Portal