O Conceito de Saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, não meramente ausência
de doença.
Assim descobrimos que para estarmos saudáveis devemos equilibrar nossas
relações em um
campo de realizações vasto, e que por sua vez, revela nossa
condição de vida, através de comportamentos
manifestos como ansiedade,
tristeza, dor, alegria, frustração, felicidade. Esses fatores existenciais são
influentes na estimulação Cerebral, levando o médico Hipócrates, na era
clássica a observar que:
“Os homens devem saber que o Cérebro
e apenas o Cérebro, nascem nossos prazeres, alegrias, risos e gracejos,
assim
como nossas tristezas, dores, mágoas e temores. Por meio dele, em particular,
pensamos, vemos, ouvimos...”.
Ainda hoje a doença mental não é
tratada com seriedade e respeito por parte das autoridades da saúde no Brasil,
chegando ao cinismo de permitir que pessoas portadoras de Esquizofrenia andem
pelas ruas das cidades e estradas
federais, como se existir fosse estar
subjetivamente tão distante da realidade, restado ao portador dessa doença a
liberdade do horizonte na imensidão do vazio, coisificando sua cidadania, no
sentido fenomenológico, diante da
sociedade que assim opta por estigmatizá-lo,
colocando no discurso político, e de forma grave, a negação da
internação
hospitalar, quando da necessidade dessa, diante dos quadros clínicos de surto psicótico.
Franco Basaglia, no livro a
Instituição Negada, propõe a necessidade da humanização do tratamento
interdisciplinar
ao doente mental, combatendo a hospitalização desumana e
cruel. Um hospital cujo o aspecto reportaria a plena
ausência de ações terapêuticas
científicas, capazes de propor tratamentos ineficientes, de acordo com a
necessidade
de cada caso clínico, estudado pôr equipes interdisciplinares.
Porém essa proposta de trabalho, defendida
por Basaglia, serviu de álibi para que muitos hospitais psiquiátricos
fossem desmontados, fechados, e em muitos países, como no Brasil, que promoveu esse
fechamento institucional, a
partir daí nada vem oferecendo a nível de
tratamento quando dos momentos de acometimento de crises psicóticas,
ou seja,
não existe emergência psiquiátrica na maioria das capitais brasileiras capazes
de acolher e tratar um
paciente em surto psicótico e dar orientações devidas a
seus familiares. Me perdoe os que gostam dos Centro de
Atenção Psicossocial,
batizado de CAPS. Seutrabalho até é necessário, porém está servindo de porta
bandeira
de empregos políticos. mas quase e sempre órfãos de ações integradas e
eficientes ao tratamento da doença mental
em todo o Brasil.
No discurso do político brasileiro, observa-se o seguinte: “estamos preocupados
e vamos criar um grande debate
nacional sobre este tema e assim verificar de
que maneira temos que atender essas pessoas portadoras dessas
enfermidades... blá, blá, blá...
Na prática a família da pessoa com doença mental tem que ter um cartão de
crédito, ou seja, recursos financeiros
próprio para dizer onde e como pretende
tratá-lo, sem isso, ele e sua família vagam em sua eterna solidão de
desemparo
institucional.
A família, em alguns casos, passa a receber um rótulo de desestruturada, e
muitas vezes é culpada pela doença do
ente querido, além disso, são
aconselhados a seguir uma igreja, onde devem tratar a doença de forma
espiritual,
rezando e orando, aumentando a fé familiar, ajudando assim a
exorcizar o demônio que habita as trevas da alma
do ente querido, regredindo a
um recurso muito usado no século XVII e XVIII, onde a definição de doença
mental
não era do poder da ciência médica, logo seu tratamento não poderia ser
realizado no hospital. Não estou
condenando a fé transcendente de uma pessoa, a
mesma pode utilizá-la. Estou dizendo que a espiritualidade não
pode ser
responsável pelo tratamento de doenças mentais graves como a Esquizofrenia,
sendo necessário levar em
consideração os fatores atenuantes endógenos da
patologia, e estes por sua vez, devem ser os norteadores do
tratamento clínico
interdisciplinar.
Volto a citar Franco Basaglia, ao
revelar sua compreensão sobre o paciente com Esquizofrenia:
“estou de acordo que um
esquizofrênico é um esquizofrênico, mas uma coisa é importante: ele é um homem
e tem
necessidade de afeto, de dinheiro e de trabalho; é um homem total e nós
devemos responder não à sua esquizofrenia,
mas a seu ser social e político”.
Então vamos esclarecer o que se compreende por Esquizofrenia. Esse nome foi
criado pelo psiquiatra suíço Eugen
Bleuler, no início do século XX, que
significa literalmente “divisão” ou “fragmentação” da mente, derivado do
grego
clássico (equizo = dividido, fragmentado; fren = mente). O Dr. Bleuler
acreditava que a característica essencial
da esquizofrenia era a incapacidade
de pensar de forma clara e de unir “linhas associativas” durante o processo do
pensamento e da fala.
Em seu livro, Admirável Cérebro Novo
a Dra. Nancy C.Andreasen, relata que a Esquizofrenia tem um comprometimento
amplo
em uma grande variedade de sistemas cognitivos e emocionais do cérebro humano.
São sintomas da Esquizofrenia:
Sintomas
.........................................................................Funções
mentais
Positivos
Alucinações;
.................................................................Percepção
Delírios; ........................................................................Pensamento
inferencial;
Discurso desorganizado; ...........................................Organização
da linguagem e ideias;
Comportamento desorganizado; ..............................Monitoramento e
planejamento do comportamento;
Emoções inapropriadas. ............................................Avaliação e
resposta emocional.
Negativos
Alogia;
..........................................................................Fluência
da linguagem e pensamentos;
Embotamento afetivo; ...............................................Expressão
de emoções e sentimentos;
Anedonia; .....................................................................Capacidade
de experimentar prazer;
Avolição; .....................................................................Capacidade
de começar coisas e continuar;
Limitação de atenção. ...............................................Capacidade
de concentrar a atenção.
Buscando entender
a causa dessa temível doença, tenho que discutir a questão genética, sem deixar
de citar
que a esquizofrenia tem um vasto estudo nessa área, já sendo possível
afirmar que o padrão real de transmissão
familiar sugere influência dos genes.
Se um dos pais tiver esquizofrenia, há possibilidade de aproximadamente
10% de
um dos filhos desenvolver a doença. Se ambos os pais tiverem, esse risco passa
para 40 a 50%. Da mesma
forma se um irmão ou irmã tiver a doença são de 10%,
aumentando para 20% se um dos pais e um irmão ou irmã
tiverem a doença. Mas não é justo deixar a culpa sobre a natureza genética. Vários estudos
genéticos de famílias
sugerem que os genes devem influenciar, mas sozinhos, não
causam a esquizofrenia. É provável que outros fatores,
devem ser somados a uma pré-disposição
genética para que a patologia se desenvolva, visto o percentual de 1%
ser
encontrado em famílias sem historicidade da doença.
A maioria dos cientistas pensam na esquizofrenia como sendo multifatorial,
envolvendo múltiplos genes, sendo
encontrado no cromossomo 5 ou 11 ou mesmo no
22 entre outros, e, possivelmente, assim como muitas influências
não genéticas
e / ou ambientais podem estar como causa desencadeadora da doença. Os estudos
estão avançados e
muitas novidades ainda virão nos revelar o quanto essa
patologia é perversa para a pessoa do doente e sua família.
Honestamente, sabemos que todo bom tratamento para uma doença grave, começa com
um bom diagnóstico e uma
ação terapêutica capaz de fazer o organismo voltar a
viver sua totalidade, seu equilíbrio, ou seja, sua homeostase.
Então, como não permitir que os
hospitais psiquiátricos possam voltar a existir, visando internar pessoas
portadoras
de doença mental, quando da necessidade maior, ou seja, nas crises
acometidas ao longo de sua vida?
Antes de mais nada, analise o que isso representa para uma família que tem um
ente querido com o quadro patológico
de esquizofrenia!
Franco Basaglia, no livro Psiquiatria Alternativa, revela que não se pode negar
a existência de uma doença, e afirma:
“Eu penso que a loucura, como todas
as doenças, são expressões das contradições de nosso corpo, e
dizendo corpo,
digo corpo orgânico e social. É nesse sentido que direi que a doença, sendo uma
contradição
que se verifica no ambiente social, não é um produto apenas da
sociedade, mas uma intenção dos níveis nos
quais nos compomos: biológico, sociológico, psicológico".
Assim, não cabe apenas o discurso filosófico diante do sofrimento humano, é
necessário tratar o organismo
como um todo, antes que esse quadro prejudique
ainda mais a vida da pessoa portadora e de todos que vivem
a sua volta, pois é
verdade, que a doença mental não se transmite por contato direto, mas o
sofrimento do
doente, este sim, é também o sofrimento de sua família, expresso
em lágrimas e alegria quando do controle
sobre o quadro clínico manifesto,
visto que a Esquizofrenia não apresenta cura definitiva, ainda, clinicamente.
A Organização Mundial de Saúde, em uma estimativa divulgada em 2002 revela que
25 milhões de pessoas
tem esquizofrenia no mundo e cientificamente sabe-se que
1% da população mundial sofre desse transtorno
mental, sendo considerada a mais
cruel e devastadora das doenças mentais conhecidas. Na maioria dos casos,
ela
agride seus portadores em idade precoce, quase sempre entre os 15 e 16 anos,
modificando todo o horizonte
de vida planejado pela pessoa e sua família,
impedindo sua integração social em uma fase de natural expansão.
Essa patologia é responsável por um forte ônus econômico, custando aos governos
sérios, o que não é caso do
Brasileiro, milhões de dólares em seu tratamento
anual, visto que o quadro clínico é quase sempre progressivo,
fazendo com que o
paciente tenha que ser reinternado quando da manifestação da doença, o que é
esperado em
seu prognóstico. Assim é realizada uma reavaliação no ato da
reinternação, objetivando estudar a evolução
da doença e sua sintomatologia
manifesta, desta forma tenta-se impedir o avanço maior, que poderá causar a
despersonalização plena da pessoa portadora de Esquizofrenia. Você já deve ter
visto algumas pessoas neste
quadro clínico, vagando pelas ruas. O tratamento
deve ser feito com base em parecer técnico de equipe
interdisciplinar. Contando
com a presença de médicos com especialidades diversas, psicólogos, enfermeiros,
nutricionistas, terapeuta ocupacional, assistente social e pedagogo. Porém
observa-se que essa equipe acaba
sendo desvalorizada, por parte do Ministério
da Saúde Brasileiro, com o poder público, investindo menos
recursos financeiros
nas áreas das especialidades necessárias e que deveriam compor a equipe para
buscar o
máximo de êxito científico no tratamento clínico da Esquizofrenia.
A psicoprofilaxia para combater as doenças mentais graves, pode ser realizada
com a família investindo em
esporte, cultura e lazer, proporcionando estímulos
às atividades motoras e intelectuais e assim produzir
endorfina, ou seja,
aumentar o prazer da pessoa que está realizando a atividade, causando maior
satisfação
na criança e no jovem, possibilitando assim, estímulos
neurotransmissores saudáveis, em intervalos de tempo
de no máximo 72 horas
entre as atividades propostas e aceitas, causando bem estar ao corpo e a mente,
podendo com isso ampliar a qualidade de vida dos membros da família.
Oswaldo Montenegro me ajuda a terminar esse artigo, revelando em seu poema Metade:
“... que minha loucura seja perdoada,
pois metade de mim é amor
e a outra também”.
Felicidades.
Bibliografia
ANDREASEN,
Nancy C. Admirável Cérebro Novo, Artmed, 2005.
BOCK,
Ana Mercês Bahia, Furtado, Odair, Teixeira, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologias –
Uma Introdução ao Estudo da Psicologia. Ed. Saraiva, 2003.
Postado por Mauri
Gaspar às 19:16 Primeiro de Julho de 2011