Um dos problemas que às vezes costuma se agravar na alma da mulher é o que diz respeito ao seu complexo humano, por ser aquele que ela se sente mais incapaz de resolver com felicidade.
Sua figura é, para a maioria, uma obsessão permanente. Luta para se mostrar bonita, atraente, com porte elegante e gestos cultos ou, melhor dizendo, graciosos. E não há dúvida de que muitas o conseguem, e com facilidade. O conjunto de sua pessoa se mostra, assim, atraente, vistoso, e seguramente exerce uma influência considerável logo ao primeiro golpe de vista do sexo oposto, pois é inegável que é a ele que o feitiço vai dirigido.
Entretanto, em seu afã de embelezar-se fisicamente, a mulher tem-se descuidado num grau extremo da beleza de sua fisionomia moral e psicológica. Muitas, sem perceberem a grande importância de que se revestem as características superiores – certamente tão sublimes que imprimem no rosto o inconfundível traço da cultura em sua mais fina manifestação – afligem-se com seus fracassos e não conseguem compreender a que obedece sua infelicidade.
Uma flor pode ser muito vistosa e até admirada num ramalhete de flores, mas, se não tem perfume, ao contemplá-la sozinha veremos que a ilusão de sua beleza se esfumará tão logo se manifeste como algo sem alma, como uma coisa inerte, incapaz de nos comunicar as delícias de sua intimidade, a fragrância de seu espírito, que tão grato se revela à alma que o aspira.
Um pássaro de lindo colorido, que não cante, poderá provocar também admiração, mas isso será enquanto o tivermos diante dos olhos, cessando quando for embora. Como extasia mais ao espírito o pássaro que deixa escutar seus maravilhosos trinados! Mesmo que não o vejamos, mesmo que o colorido de sua plumagem seja o menos vistoso, ele nos atrairá, e seu canto nos deleitará a ponto de anelarmos tê-lo sempre conosco.
A mulher cujo espírito carece de cultivo, de ilustração, pode se tornar tão sem graça quanto a flor meramente vistosa. Se, porém, ela se esmera em polir seus modos mais do que suas unhas, se percebe que a bondade e a alegria devem ser parte inerente de sua natureza feminina, aplicando-se à tarefa de fazer desaparecer os defeitos de seu caráter ao mesmo tempo que faz desaparecer as impurezas de seu rosto, verá que sua vida florescerá cheia de esperanças e se converterá, por seus encantos, na flor predileta do espírito.
A natureza feminina necessita experimentar os benefícios de um encanto superior, qual seja o da graça do espírito pelo cultivo das faculdades mentais. Isso não requer grandes esforços, nem estudos agitados ou pesados.
Não bastam somente os cuidados externos para realçar a figura humana acima da vulgaridade, pois no trato com os demais aparecem, com frequência, as deficiências próprias de semelhante estado. E quanto se anela, nesses momentos, possuir aquilo que, aos gritos, o pudor interno reclama! Uma mulher discreta, gentil e culta é sempre agradável, esteja onde estiver. Os atrativos da alma costumam ser muito mais poderosos do que os do físico.
A mulher deve ser fina em seus modos e em sua linguagem. Todo gesto, expressão ou atitude que atente contra sua feminilidade a enfeia, chegando mesmo a convertê-la numa pessoa que inspira repulsa.
Para adquirir as belas qualidades que tanto adornam seu caráter, é necessário que a mulher se disponha a isso com especial dedicação. Aprendendo a conhecer de que modo os pensamentos atuam e influenciam a vida, buscará a companhia daqueles que elevem seu espírito e contribuam, por um lado, para dar brilho a sua figura de mulher superior no meio ambiente em que atue e, por outro, para fazer com que sua alma desfrute as inumeráveis prerrogativas que o conhecimento abre às possibilidades de viver uma vida mais ampla. É uma vida mais cheia de atrações do que a vulgar, por conter ela uma tão grande variedade de motivos que não só despertam o ser interno num novo mundo, mas também o extasiam ante a grandeza dessa parte da Criação que permanece ignorada para os que não sabem que existe nem se dispõem a obter os meios para conhecê-la.
Portanto, o cultivo mental deve constituir para a mulher uma necessidade tão intensa quanto a que sente de embelezar sua pessoa.
Mas isso não é tudo. Pode-se muito bem presumir que os benefícios que uma preparação dessa espécie lhe oferece sejam incalculáveis. A posição espiritual da mulher que é sabedora de que conta com aptidões para enfrentar a vida é muito diferente da posição daquela que não as possui. E quem, senão os próprios filhos, haverá de recordar com gratidão essa graça quase sublime que uma mãe inteligente e culta derrama sobre suas almas? Que prêmio maior pode haver para seus sacrifícios que o de ver seu nome, símbolo de exemplo, ser bendito e venerado por todos? Mulheres assim são as que forjam o ideal das gerações.