O sexo começa antes do sexo. O sexo começa nos olhos, naquele primeiro olhar de conquista, quando duas pupilas sedentas se tocam e se acariciam. O sexo começa quando o desejo nos faz mordiscar nossos lábios graciosamente. O sexo começa nas conversas e afinidades partilhadas com entusiasmo e carinho. O sexo começa no momento em que o outro entra na gente, não pelo físico, mas pelo coração. Quando esse outro começa a fazer a diferença em nossa vida e chama sedento todo nosso eu para partilhar um novo mundo com ele(a). Ah, o sexo começa com as mãos que se roçam de leve. Com as pernas que se tocam sem querer e que não negam esse encontro. O sexo começa no cílio que é retirado dos olhos com delicadeza ou com o guardanapo que limpa o restinho de espuma do canto da boca. O sexo começa em um simples “oi” quando o outro te sorri maliciosamente com o canto da boca. O sexo começa na admiração. Na disposição de entender. Na vontade de conhecer o mundo por outros olhos. O sexo começa nos livros trocados, nas mensagens virtuais dedilhadas, no abraço apertado dentro do elevador. O sexo pra ser bom começa na excitação que o outro nos causa sem precisar fazer esforço para isso. Ah, o sexo começa muito antes das tão faladas preliminares. Em minha concepção, as preliminares para um bom sexo são contadas a partir do instante em que o corpo, a mente e o coração desejam a mesma coisa. O bom sexo começa no sussurro de palavras carinhosas que se tocam profundamente. O mau sexo se expressa gritando aquilo que antes da cama não foi bem resolvido. Muita gente diz que é na cama que se resolvem as coisas, mas para mim, é na cama que as coisas se revelam. É lá que desaguam todas as experiências comuns, todas as pequenas descobertas que dizem quem somos, dentro e fora dela. A cama não resolve nada. A cama não apaga a falta de empatia, a falta de sincronia e a falta de respeito. A cama não dissimula uma intimidade que não existe. O bom sexo começa quando tudo caminha muito bem à despeito de nossas pretensões racionais. Quando o desejo acontece sem se dissimular. Quando a intimidade se declara natural e não forçada. O bom sexo é consequência de um querer que nasce bem longe da cama, mas que nela se deita sem cerimônia, ou melhor, sem lista.