tomar chuva, mesmo resfriado há tempos, enquanto não consegue empurrar o
outro para debaixo de um teto. É suportar mais do que dizíamos capazes. É perdoar o
imperdoável. Tentar carregar o dobro do nosso próprio peso. É repetir um milhão
de vezes a mesma coisa, se necessário, por mais que a paciência esteja esgotada.
|Remar sozinho quando o outro não tem forças. Quando não oferece ajuda,
quando
está muito ocupado ou quando não tem tempo. Amor é isso, não é? muito além do
desespero de uma paixão consumida em chama. Muito mais que ter alguém para
acompanhar nas festas, para ligar à noite, quando não se tem o que fazer; Muito
mais que alguém para suprir carência com abraços e beijos. É ter alguém sem
possuir. É tornar-se, ao mesmo tempo, morada e local de fuga. É ser professor,
psicólogo e companheiro de dança, tudo ao mesmo tempo. É enfrentar o escuro em
um lugar desconhecido, com a certeza de que haverá uma mão para amparar
qualquer queda. Deixar a zona de conforto porque o outro pede socorro.
Mergulhar em um rio congelado e profundo, nadar quantas milhas puder, engolir
água, choro e medo, aguentar o frio e a dor, porque alguém lá no fundo espera
suas mãos trêmulas e conta com a sua coragem para carregá-lo até a margem.
Mergulhar, sem olhar o peso no próprio bolso, nesse rio de águas misteriosas. Esse
rio chamado amor.