...Quando a culpa parece ser apenas dos outros, daqueles que não nos aceitam como
somos, que vivem à revelia das nossas vontades, vale perguntar: por que colocamos
nas mãos deles o que é responsabilidade nossa? As outras pessoas não vieram ao
mundo para nos bajular, para nos mimar. Elas têm suas próprias necessidades, suas
próprias carências. Não são agressores conscientes, apenas estão tocando a vida da
forma que acham que devem. Serão os únicos culpados pela nossa infelicidade? Nós é
que devemos encontrar um jeito de não sermos tão dependentes do olhar alheio.
Por outro lado, se assumimos sozinhos a culpa pela nossa incompetência diante da
vida, pela nossa dificuldade em lidar com os desafios, por não conseguirmos manter
laços afetivos, também é um exagero. O egoísmo do mundo tem crescido, as pessoas
andam desinteressadas em manter vínculos, temos sido jogados às feras mesmo. Os
outros contribuem para nossa dor, sem dúvida.
Do que se conclui: tudo o que nos acontece tem vários “pais” e “mães”. Ao
reconhecermos isso, fica mais democrática a distribuição de responsabilidades e o
impulso de fugir diminui. Desertar é uma tentativa de escapar da culpa, mas raçudo
mesmo é aquele que fica e a reparte – e toca a vida sem abandonar ninguém.
Martha Medeiros