Um pacote de pipoca, mousse de chocolate com chantilly, um gosto, um cheiro, um beijo.
Todos nós temos o poder de voltar no tempo. De reviver o que foi bom através da nossa memória afetiva.
Mas para ter o que lembrar a vida pede que a gente se entregue. Que a gente a experimente com as mãos. Assim um dia, quando a gente olhar para trás, vai ter tanta coisa bonita pra lembrar que vai ser difícil escolher para qual felicidade voltar.
Tenho amor e carinho pela minha mãe, é uma mulher detalhista, com gosto apurado e super exigente, ama coisas bonitas e arrumadas, a mesa do café da manhã tem que estar bem posta, a casa impecável e cheirosa, sempre tem que ter flores nos vasos...quer ver minha mãe transbordando de alegria? Dê a ela um pacote de pipoca de canjica, daqueles que vêm em um pacotinho rosa. Eu adoro essa pipoca, mas a mami ama de paixão. Quando como a bendita pipoca com ela viajo no tempo, volto a ser menina meiguinha, lembro das risadas e brincadeiras.
O que quero dizer é que ao lado de coisas que adoro, vinho, chocolate, caldeirada, moqueca, um simples pacotinho rosa de pipoca é como uma máquina do tempo...algo tão baratinho e tão caro nas lembranças
Todos nós temos esse poder de voltar no tempo. De reviver o que foi bom através da nossa memória afetiva. Pense um pouquinho, deve existir algo que o faça viajar para um tempo bom. Sabe, há quem goste de uma bebida de ano novo para lembrar o gosto de começo. Há quem ame o cheiro de um livro antigo para voltar ao dia em que aprendeu a ler com um livro empoeirado e há quem, desgraçadamente, volte no tempo por meio de alguém.
Às vezes, acontece, dessa pessoa ser próxima, amiga, amante e confidente. Daí tudo bem. Mas quase sempre o gosto de um beijo, o cheiro de um perfume, a sensação de um toque, o timbre de uma voz, ficou em algum lugar distante. É que a vida, em alguns momentos, coloca a chave do nosso portal do tempo bem longe do nosso alcance. É, eu sei bem como é.
Mas isso não precisa ser ruim. Isso pode apenas significar que a vida quer mais de nós. Que ela quer que a gente se permita novos caminhos, novas peles, novos pontos de vista. Que a vida quer que a gente prove frutas e comidas exóticas. Que ela quer que a gente mude de lado, que a gente movimente as ideias e cadeiras de lugar. Sim, a vida quer que a gente caminhe por outras sensações... A vida quer que a gente se lambuze.
E assim, nesse nosso novo caminhar a gente vai inventar novas formas de ser feliz. A gente vai comer feijão tropeiro. Vai experimentar pisco. Vai aprender tango. E nesse aprender a gente vai amar e desamar. A gente vai guardar tanta coisa boa na gente que, logo mais, a nossa felicidade vai estar em tantas coisas, lugares e pessoas que vai ser difícil não tirar um tempinho para lembrar o bom onde quer que a gente esteja.
A gente vai entender que ser feliz é se permitir e sentir... É se jogar no que completa e satisfaz. É respirar o que é bom sem medo.
É comer com as mãos.
É se lambuzar.
É viver pra lembrar com carinho.
É viver pra provar um vinho, um cheiro, um afeto.
E aí, a gente vai ter tantos pacotinhos ao alcance das mãos que vai ficar difícil escolher para qual felicidade voltar...
Lambuze-se de vida.
beijos e carinho, bell
Baseado num texto de Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.